-FÉ EGOÍSTA-
Francisco José de Souza*
O mundo dos interesses, também é o palco do desfile da fé religiosa ornada dos atrativos da matéria, da projeção social, da busca do ter e do poder.
A grande massa aflita que compõe a grei das religiões que prometem tudo resolver vive atada psiquicamente, partilhando trocas, fazendo crer que primeiramente é preciso dar para depois receber e, quando não recebe, é por falta de fé...
Na fileira das espertezas, os mais hábeis tornam-se líderes, desfrutando dos primeiros lugares no banquete das benesses do templo.
Sob os disfarces da fé ardente, muitos dão o testemunho da doação ostensiva, convidados para o espetáculo do compartilhamento e o dever de manter a instituição que o abriga e lhe rende dividendos, afinal, é de bom tom “cuidar da galinha dos ovos de ouro”.
Neste universo de interesses, por mais paradoxal, alguns podem até acalentar o desejo de uma fé verdadeira, isenta dos atrativos da matéria, entretanto, dominados pelo ego do ter, são incapazes de confessar publicamente, ante os fundados receios dos prejuízos que lhe advirão...
O verdadeiro cristão, jamais teme confessar a verdade, somente uma fé egoísta mantém o fiel atado aos interesses de que desfruta, incapaz de romper com os triunfos enganosos, das glórias fantasiosas que apenas destroem e ilude o individuo quanto à transitoriedade do mundo objetivo, especialmente, da própria organização somática.
O Cristo sinalizou para a conquista de outros valores de cunho moral e libertadores, para cujo tentame se requer a introspecção e encontro com a realidade do que se é, anulando a personalidade egoística, alterando as paisagens e aspirações das conquistas secundárias ante as essenciais para a existência feliz, real e duradoura.
Romper com as tradições impostas, e ampliar a visão da infinidade da compreensão integral da vida, livre das imposições trabalhadas na superfície sem significado profundo da fé verdadeira, somente é possível a partir da decisão do auto encontro e enfrentamento das paixões perturbadoras, abrindo espaço para a diluição dos interesses em torno da fé materialista, arquitetada e construída pelos devaneios humanos.
Há muitas diretrizes da mentira, da acomodação, da exploração das mentes e dos corações embalados pelos triunfos da astúcia e bajulação, todos movidos por uma crença de objetivos dourados que o mundo tanto cultua.
Quando se ousa quebrar as estruturas milenares de credo, deve-se estar abastecido de segurança emocional, harmonia estrutural, consciência emancipada, partindo para uma realidade profunda.
Na seara divina não há facilidades, tudo é conquistado através do mérito, a custo de sacrifícios de “carregar a cruz”, representada simbolicamente pela resistência aos atrativos da matéria, das imposições mesquinhas, para lograr a auto iluminação.
Jesus é sempre o modelo, não dispondo de “uma pedra para encostar a cabeça”, rompeu com todas as formas de culto exterior, dos vícios e dos dogmas infelizes e castradores das mais belas expressões do espírito.
Nestes tempos assinalados pela transição do mundo dos apegos para o mundo moral, a ciência vem desmitificando a matéria e mostrando que toda crença que destoa das leis da natureza, tende a ruir, porquanto, nenhuma fé egoísta resiste ao poder diluidor da ciência que esclarece, comprova e desmitifica...
Francisco José de Souza é Promotor de Justiça.
Coluna da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Maringá – ADEMA. Acesse o portal www. ademaespirita.org. br e conheça mais sobre o Espiritismo.